Apagões em São Paulo expõem fragilidades da infraestrutura elétrica da cidade

A sequ ncia de apag es registrada em S o Paulo e na regi o metropolitana após a ventania histórica desta semana evidenciou que os impactos dos eventos climáticos extremos n o decorrem apenas da for a da natureza, mas também de escolhas estruturais da cidade.

Na quarta-feira (10), rajadas de vento de até 96,3 km/h, as mais fortes já registradas na cidade sem a presen a de chuva na história, derrubaram árvores, danificaram postes e deixaram mais de 2 milh es de imóveis sem luz. O vento come ou pela manh e se estendeu até a noite, algo considerado inédito, mas que ficará cada vez mais comum, segundo meteorologistas.

Especialistas ouvidos pelo g1 afirmam que já existem tecnologias capazes de reduzir significativamente a dura o e a extens o das quedas de energia, mas que elas ainda n o s o aplicadas de forma ampla na capital. A principal solu o estrutural para o problema é a substitui o das redes aéreas por subterr neas, especialmente em áreas densamente arborizadas.

"Enquanto a rede estiver nos postes, o conflito com as árvores vai continuar existindo. A rede subterr nea elimina esse risco e permite ampliar a arboriza o da cidade sem comprometer o fornecimento de energia", explica o professor Celso Oliveira, do departamento de engenharia de biossistemas da USP.

No entanto, a principal barreira para essa mudan a n o é técnica, mas econ mica e regulatória. O custo da obra é elevado e envolve uma redefini o do modelo de concess o, já que as concessionárias também obt m receita com o uso compartilhado dos postes por empresas de telefonia e internet.

Além da infraestrutura física, a tecnologia atual permite monitorar a rede em tempo real, identificar com precis o o ponto da falha e realizar manobras remotamente, sem a necessidade de desligar bairros inteiros. Esse tipo de sistema, conhecido como rede inteligente, permite criar redund ncia no fornecimento, garantindo que a energia chegue por rotas alternativas em regi es classificadas como de maior risco.

Enquanto a ado o em larga escala de redes subterr neas é uma solu o de médio e longo prazo, especialistas afirmam haver medidas imediatas que poderiam reduzir os impactos dos apag es. Cabe Prefeitura de S o Paulo manter equipes técnicas qualificadas para o manejo da arboriza o urbana e revisar normas urbanísticas que aumentem a resili ncia da cidade.

Apesar de o prefeito Ricardo Nunes (MDB) defender a substitui o da Enel por entender que a empresa n o dá conta do servi o, a própria administra o municipal n o tem um plano específico para lidar com blecautes provocados por eventos extremos. O Plano de A o Climática da capital, criado em 2021 e atualizado anualmente, n o aborda os impactos na infraestrutura de distribui o de energia.

Segundo o especialista Celso Oliveira, o problema n o se resolve apenas com a troca da empresa concessionária, mas com planos bem estruturados, aprovados pelos órg os reguladores e efetivamente fiscalizados. "A impress o é que n o existe plano aprovado que permita deixar milh es de pessoas sem luz por dois ou tr s dias. Se isso está acontecendo, ou o plano n o está sendo cumprido, ou a fiscaliza o falhou", afirma.